Era uma vez um menininho que se apaixonou pelas letras. Um dia ele aprendeu a juntar todas elas. No outro ele percebeu que juntas elas viravam palavras. Pouco tempo depois estas palavras saiam daquelas mãozinhas diretamente para o papel. Ele mesmo se assustava com suas produções. E queria mais. Todo dia mais. Escrever mais... Bilhetes, cartinhas, notas, listas, caderno de estudos...
Mas não sabia como olhar para elas e entender o que aquele amontoado de letras nos livros significava.
Perguntava o que estava escrito aqui. Passava o dedo pelas linhas e se pegava fingindo ler as frases decoradas nas páginas dos livros que ele conhecia tão bem.
Mas um belo dia, depois de mais muitos dias, ele descobriu a leitura.
O mundo se abriu.
Admirável mundo novo se abriu.
Uma luz naquela cabecinha se ascendeu.
E então as palavras viraram frases, como magia... e o pensamento foi chegando depois meio sem jeito pra contar pro menino o que aquilo tudo queria dizer. O pequeno leitor se maravilhava com a possibilidade de saber o que estava escrito em todos os lugares.
Nos álbuns, na tv, nas placas, nos livros, na lista de telefones de emergência.
Emoção pura daquele menino. E da mãe dele, claro. Que não cansava de vibrar a cada frase feita, cada trechinho concluído.
Esse menino, o leitor, tinha um irmão. Pequeno e curioso. Que tudo observava. Que tudo queria fazer, que tudo queria repetir. Mas que ainda era pequeno do tamanho de um botão. Porém, ao ver essa movimentação pela casa, com o irmão leitor... ele tratava de reproduzir a cena pedindo para a mãe dizer o que estava escrito aqui, ou acolá. Solicitava papel e lápis para escrever uma carta. Para fazer um desenho. E no meio de lindas garatujas existia uma intenção linda. Uma curiosidade infinita. Um olhinho brilhante. Sedento para crescer e aprender a ler e escrever como o irmão dele.
A mãe, que no caso é a mesma do pequeno leitor, também vibrava cada vez que o pequeno curioso passava aqueles mini dedinhos pelos livros dizendo que estava escrito blablablablablabla aqui e zigzagzigzag lá.
Ela também batia infinitas palmas quando recebia um papel todo rabiscado que ele dizia que havia feito uma carta para ela.
A mãe guardava todas as cartinhas deles em uma caixinha. Como relíquias. Desde os primeiros rabiscos, garatujas fantásticas, até as mais elaboradas, até o primeiro cartão escrito mamãe. Pinturas de dedinhos, telas coloridas, trabalhos mais elaborados, colagens, recortes, desenhos. Todas as manifestações artísticas destes dois meninos tinham valor imenso para aquela mãe. Até quadros algumas dessas artes viraram, e ficaram expostas na sala da casa deles como obra de arte.
Porque para ela eram verdadeiramente obras de arte. Da mais pura e querida arte. Daquelas que tocam o coração.
E ela sabia bem lá no fundo, que com o passar dos dias e dos anos, aquele ser pequenino do tamanho de um botão iria começar a juntar as letras e depois as palavras... e a luzinha colorida na cabeça dele também se ascenderia.... e neste dia ele iria começar a se deliciar com a possibilidade de ler o mundo.
A maior certeza do coração da mãe do leitor e do pequeno curioso era de que a leitura, seria o primeiro passo para os dois meninos começarem a desbravar o mundo, primeiro através dos livros, e depois com uma mochila nas costas.