12 de agosto de 2015

SEGREDOS DE LIQUIDIFICADOR

                  Mãe e filho de Gustav Klimit;


Eu amo nossas conversas ao pé do ouvido na hora de dormir. 
Na hora que eu vou colocar você para dormir. 
Elas não acontecem todos os dias, mas em alguns dias, quando você está sem sono, ou quando quer dividir alguma coisa do seu dia, ou quando quer questionar alguma coisa sobre a minha vida e a do papai, a gente engata num papo tão gostoso, que quase me esqueço de que você tem que dormir logo para conseguir acordar cedo no dia seguinte.
Você conta coisas legais, coisas engraçadas, coisas difíceis, chateações, causos que aconteceram com outras pessoas que você conhece... Em cada conversa dessas, sinto que a gente se aproxima mais, que você abre sua portinha interna e me permite chegar bem pertinho dos seus sentimentos mais profundos. 
Me sinto muito privilegiada. 
Me sinto feliz. 
Me sinto completa.

Quando as coisas que você me conta são doídas, doem em mim também. 
Mas sempre tento ascender uma luzinha dentro de vc, um vagalume que seja, para que você consiga perceber que nem tudo é tão ruim como parece a noite. E que amanhã o dia vai clarear e com ele um novo dia vai chegar. E a luzinha dentro de vc vai brilhar.
Nessas horas o Bê já está roncando e eu e vc papeando.
Ás vezes rimos das coisas engraçadas, ou vc fica chocado quando te conto que eu costumava subir em árvores e brincar na rua quando era criança. Ou quando vc quis saber quantos namorados eu tive antes do papai. Nunca me imaginei dividindo essas coisas com vc, mas é tão valioso filho.
É tão único.
É tão crescente.

Ver você se tornando cada vez mais menino grande e cada vez mais sendo uma companhia tão agradável pra mim. Quando te digo que adoro ficar com você e vc diz que também adora ficar comigo. 

Ver seus gostos se modificando, a gente se diferenciando em tantas coisas como no futebol que eu não curto e vc ama, e quer que eu fique te treinando mil vezes por dia. 
Suportar o futebol nesse nível filho, aprender as expressões, imergir no mundo do futebol que eu simplesmente não suporto é realmente muito amor por você. E muito respeito pelos seus novos gostos. Mesmo quando eu te digo se vc não consegue imaginar outra brincadeira que não seja com uma bola.

Você cresce e aparece. Mas nosso vínculo só fortalece. Eu sei que você não vai ficar a vida toda contando segredos de liquidificador no pé do meu ouvido na hora de dormir, mas fico feliz de poder viver isso com você hoje filho. E o quanto isso durar. E quero que esse vínculo que a gente constrói um pouco todos os dias seja uma fortaleza. Pra mesmo depois de voar você poder voltar pra dividir comigo o que quiser, o que for possível pra vc. 
Tenho certeza que eu sempre vou amar.




9 de junho de 2015

Árvore ou bonsai?



Ontem li uma reportagem interessante que falava sobre os formatos da criação dos filhos… falava se a gente queria transformar nossos filhos em bonsais, podando todas as arestas e moldando aquele ser, transformando em uma beleza com potencial atrofiado…. 
Ou se a gente tinha a capacidade de enxergar o filho como um ser único e permitir que aquele ser cresça e exerça seu potencial com liberdade para o mundo.

Eu nunca havia pensado nos bonsais desta forma, e muito menos nos filhos. 

Sei que existe dentro da gente um questionamento constante em saber se estamos fazendo o melhor trabalho na educação dos nossos filhos e uma dúvida importante: será eles estão absorvendo o que estamos ensinando?

Qualquer dica ou demonstração de alguma atitude que você considera ideal vinda do seu filho é motivo de orgulho, bem como qualquer atitude que você desaprova é decepcionante, você reprime a mini criatura e explica o porque, ou se irrita e solta um "porra filho", ou ignora. 
Eu nunca consigo ignorar, mas na maioria das vezes me frustro bastante.
Passa. Mas é frustrante. 
E aí vejo que a frustração é minha e não deles. É pesado jogar esse peso nas costinhas deles. 
Nas costelinhas deles.

Talvez eles não estejam preparados para lidar com as minhas expectativas.E talvez eles sejam apenas crianças querendo se divertir e poder ser apenas criança. Nada de agenda lotada de atividades por aqui. Dias de ócio são muito valorizados. Dias só para brincar. Enquanto eles puderem existir, vou lutar por eles.

Talvez meus filhos sejam bem mais do que eu sonhei um dia que pudesse ter.

Eu sonhei um dia em ter bebês loiros correndo pela casa com um cachorro. Sonhamos com essa família.
Só não imaginava que criar filhos era isso tudo.
Para criar qualquer coisa você precisa de dedicação, amor, entrega, generosidade.
Para criar filhos você precisa de tudo isso e também estar disposto a abrir mão de muitas coisas por um bom tempo. Outras para sempre. Coisas que você gosta, que você gosta muito.
Algumas você pode recuperar com o passar dos anos. Talvez você descubra coisas novas que gosta nesta nova caminhada. E haverão muitas descobertas. E conquistas do pequeno ser apaixonante.

Como não vibrar a cada conquista e não morrer de rir com cada mínima descoberta, como a última do Beny ao descobrir que "pipi não tem osso"?

E como rir de felicidade sem ser repreendida pelo filho que acha que eu estou rindo dele quando ele me conta coisas engraçadas do cotidiano?
Tento em vão explicar que estou rindo de felicidade por ele e não estou tirando sarro dele…
Mas é em vão, normalmente meu filho que sai pisando forte porque eu não paro de rir…

Eu sei que eu não sou uma mãe convencional… Isso não é bom, nem ruim… 
Gosto de ser diferente, não gosto das coisas que todo mundo gosta.

Eu tiro sarro deles ás vezes, e de mim mesma também porque quero ensinar para eles que rir faz bem e que a felicidade está nas pequenas coisas… que rir da gente mesmo também pode ser delicioso e libertador…

Eu falo muitas besteiras pra ver eles se matarem de rir, e já temos as nossas "piadas internas" pela evolução do nosso besteirol noturno… O som daquelas risadas é musica para os meus ouvidos.

Também falo do passado, de quando eu era criança, das minhas experiências, das experiências das pessoas da família, dos entes queridos… adoro compartilhar com eles coisas românticas, coisas felizes…

Conto sobre muitos momentos de quando soubemos da gravidez deles, do quanto eles foram desejados, das mínimas coisas que eles faziam quando eram bebês, as primeiras palavras, as coisas que gostavam de fazer...

Fico montando um grande quebra cabeça, ou uma colcha de retalhos das nossas histórias, dos nossos sentimentos, das nossas vidas, para que elas se cruzem nas cabecinhas deles e se fixem nos seus corações.

Não quero que eles virem bonzais aparados, lindos por fora e engessados por dentro…

Quero que eles cresçam para o mundo como árvores fortes, com raízes gigantescas e sem fronteiras. 

Que façam sombras deliciosas para que muitos possam se aconchegar embaixo deles.

O mundo em que a gente vive hoje da muita preguiça, é um mundo hostil, vazio, com valores trocados…Parece um trem desgovernado indo para sei lá onde com pessoas com tanta pressa que não estão vendo nem sentindo nada…Todo mundo quer ter tudo e não se preocupa em ser nada.

Por isso e por muitos outros motivos me esforço arduamente para que meus filhos consigam ver o que eu vejo e torço para que consigam enxergar além do que eu sou capaz, a beleza do mundo, e as sementes que podemos plantar por aqui, como seres humanos de verdade, inteiros, amados, saudáveis, felizes, que sorriem e que choram, que ficam felizes e que se frustram ás vezes, que encaram os desafios de todos os dias, nos relacionamentos, na vida. Que se arrisquem, que se relacionem, que estejam dispostos a se entregar para as pessoas, que queiram melhorar os momentos, os dias, ajudar as pessoas, fazer carinho na alma.

Quero ter menos expectativas com eles, tentar aceitar diariamente o jeito de cada um, e o propósito diferente que cada um deles tem por aqui. 
Quero poder promover o que cada um tem de bom e tentar jamais minar ou "podar" a liberdade, iniciativa ou aptidão deles para as coisas. 
Ter a minha consciência já ajuda.
Agora preciso entoar o mantra muitas vezes para não esquecer no meio da correria.
E não comparar, jamais comparar os dois. 
Que são absolutamente diferentes em tantas coisas, e tão apaixonantes com todas as suas diferenças.
E os dois terão uma coisa importante em comum:

O meu imenso e eterno amor e dedicação, e meu esforço em aceita-los do jeitinho que eles são.
Quero criar árvores felizes e não bonzais.










30 de abril de 2015

VOCÊ SOFRE, EU SOFRO




Você fez 7 anos.
Justo neste dia seu dente de cima caiu. Não era o primeiro, mas era em cima, o que te deixou desconfortável. 
Sorriso banguela para você estava sendo assustador.
O seu primeiro dente mole foi pura excitação: você queria que eu puxasse, que eu tirasse de qualquer jeito para você ter uma boca com uma janelinha como a maioria dos seus amigos. 
Foi um momento único de confiança e amor. Eu adorei, vc adorou. Fiz até um vídeo.

O segundo dente mole você arrancou sozinho. Um belo dia, ele caiu. Na sua mão. Fácil. Você me disse que assim deveriam ser com os próximos.

O terceiro dente mole foi em cima. Fazem semanas que está mole. Mas este foi difícil desapegar. 
Você não quis que eu tirasse. Você não quis que caisse. Muito menos no dia da sua festinha de aniversário. 
E óbvio que foi o que aconteceu. 
Você chorou e eu me irritei. 
Ver você lutando contra um dente me deixou triste, ainda mais num dia que deveria ser festivo.

Porém só depois de ter ficado irritada com você é que me dei conta do quanto este momento poderia ser dolorido para você. 
E importante.
Do quanto crescer pode ser difícil. 
Do quanto este dentinho representa. 
Pra mim pode ser só um dente, e para você um vínculo com a sua primeira infância. 
Um apego com a vontade de ser ainda um menino pequeno com seus dentes de leite. 
Uma vontade de não perder nada que tenha nascido com você. 
Uma resistência a crescer e se transformar.

Te contei que crescer dói.
Que todas as pessoas passam por essa troca de dentes nesta fase da vida.
Que tudo está mudando.
E que faz parte ter um sorriso banguela nas fotos.

Te disse que você é lindo de qualquer jeito, com ou sem dentes.
Te disse que é "só" um dente.
Te disse que você vai se acostumar.
Te disse que serão meses de ventinho na boca até todos os dentes serem trocados.

Aos poucos as minhas palavras fizeram algum eco dentro de você.
Você se acalmou.
As lágrimas deram lugar para a alegria de brincar com seus amigos.
Pela felicidade de ser o dono da festa.
Pela alegria de fazer 7 anos.
Pela euforia de celebrar o seu dia.

E ao final do dia, você me disse que até que foi legal seu dente ter caído no dia do seu aniversário.
Que você até achou que ficou bonitinho.
Eu achei simbólico.
Eu tinha certeza que você estaria de janelinha nas fotos do seu aniversário de 7 anos.
Ficou lindo.

E eu tive que rever meu pensamento para tentar entender você.
Seu sofrimento primeiro me irritou, porque me deixa muito brava ver você sofrer. Se eu pudesse sofreria por você todas as vezes, mas é claro que eu não posso.
Mas depois eu respirei fundo e tentei entender suas razões, seus sentimentos.
Crescer pode doer filho, mas é só um dente. De uma boca inteira que vem pela frente.






31 de março de 2015

O EXERCÍCIO DO DESAPEGO



O amor e o apego andam ali juntinhos, de mãos dadas, um segurando bem firme no outro pra não soltar nunca. 
A ilusão do amor é o apego, a posse.
Mas se é a morte, a única certeza da vida, porque nos apegamos tanto nas pessoas que amamos e nas coisas de que gostamos? 
Porque fica impossível imaginar a vida sem as pessoas que mais amamos?
Porque quando ouvimos histórias tristes que acontecem com outras pessoas, nosso coração aperta e fica minusclinho do tamanho de um amendoim? Dói pensar ou considerar vivenciar a experiência daquela pessoa. Vem um sentimento de compaixão infinita, de dor compartilhada, de pena, de tristeza. 
E isso que sentimos, não é nem de longe um grão de areia do que a pessoa possa estar sentindo. 
Como imaginar algo deste tamanho? Como imaginar uma perda tão grande?

Não dá para imaginar.
A gente nem quer imaginar isso.
Mas porque a gente recebe da vida esses presentes de pessoas amadas que cruzam o nosso caminho?
Nós temos uma vida (nem sempre todo esse tempo) para viver este amor, sabendo que um dia iremos partir, mas a última coisa que pensamos é no fim. 
Nos preparamos para a escola, para o vestibular, para as entrevistas de trabalho, para casar, para viajar, para ter uma família, mas a única coisa que nós não nos preparamos é para esta despedida. 
Porque ela é tão impensável que simplesmente vivemos o dia de hoje, com alegria, amor, felicidade, e tentamos deslocar esse fim pra bem longe daqui. 
Quanto mais longe melhor.

Será que quanto mais a gente se conecta com a gente mesmo e com a vida, a gente vai ser capaz de exercitar o desapego com os seres que amamos? 
Admiro tanto a sabedoria oriental que encara o fim como uma passagem e o começo de um novo momento.
Acho bonito, evoluído, puro e de uma generosidade sem fim. 
Ser generoso a ponto de "deixar ir", "soltar",  é ser tocado por algo muito grande. 
Eu tenho trabalhado muito essa conexão e tentado muito exercitar o desapego. 
Mas é tão difícil.
Ainda mais tendo vivenciado uma história de perda tão cedo. Eu sei o quanto dói.
Eu sei que cicatriza. Eu sei que a gente sobrevive. Eu sei que a gente consegue voltar a ser feliz.
Eu sei que a vida é um presente. Eu sei que a experiência de viver com pessoas que a gente ama e que a gente escolheu pra se relacionar é um privilégio. 
Eu só quero que demore muito para acabar essa jornada.
Tem muito amor dentro de mim para ser compartilhado e quero compartilhar.
Quero desapegar do apego.
Será que isso é possível?



9 de fevereiro de 2015

COMO EXPLICAR O INEXPLICÁVEL?


Ás vezes me dá um nó na garganta… um aperto no peito que desce pro estômago… uma tristeza… quando penso o que vai ser desse mundo aqui que a gente tá vivendo. Quando penso nos meus filhos e no futuro deles aqui nesse pedacinho de planeta que a gente compartilha. 
Me dói acabar com os sonhos infantis, puros, perfeitos deles… 


Ter que dizer que as pessoas são capazes de fazer coisas ruins… mesmo para pessoas boas…
Cuidar daqueles coraçõezinhos que se entristecem quando acham que não são tão amados quanto gostariam, ou nas suas fantasias infantis…
Posso lamentar também por eles não terem conhecido um mundo bem diferente desse, no passado, quando o avô deles descia a Haddock Lobo de carrinho de rolimã, ou quando eu subia em árvores na minha rua…


Crescer dói e ver crescer também dói. Vejo o David entendendo tantas coisas e questionando tantas outras coisas tão difíceis de falar. Tenho medo do medo que ele vai sentir quando souber que o mundo não é exatamente como parece. Mas a vida é assim. E para sorte ou azar deles, foram nascer de uma mãe bastante realista. Sensível e mega afetiva mas totalmente realista. E que para alertá-los sobre perigo faz questão de contar com a realidade. Dura. Difícil. E até Cruel ás vezes.


E por outro lado, junto com a dura realidade, preciso ajuda-los a manterem a chama do sonho acesa dentro deles, fazer com que eles nunca desistam dos seus sonhos, faze-los acreditar que tudo vale a pena se a alma não é pequena (já dizia Fernando Pessoa), fazer crescer e se multiplicar dentro deles o amor pelas pessoas e pela vida, fazer eles perceberem que mesmo no meio de tanta coisa ruim existem infinitas coisas maravilhosas, muitos presentes da vida, a felicidade presente nas menores coisas, aqui, agora, nesse pequenino espaço de tempo que podemos ficar juntinhos.

Essa missão de ser mãe, de ser guia sem ser chata, de ajudar sem invadir, de amar sem sobrecarregar, de doar sem sufocar, de dar amor sem faltar com o amor, de alertar sem brigar, de ensinar sem criticar é complexa, difícil e gratificante. Por mais que eu me esforce parece que sempre estou fazendo tudo errado. Sempre. Mas no fundo, bem lá no fundo, quando olho pra eles, sei que mais acerto do que erro. E mesmo ás vezes desejando que houvesse um manual prontinho me dizendo como agir, o que falar, dentro de mim estão as maiores sabedorias e os melhores aprendizados da vida. Aqueles que recebi de outras histórias de amor, de outras relações que a vida me presenteou, de todo o amor que recebi e claro que das faltas e sofrimentos que senti. 

Então quando me deparo com uma pergunta difícil e inexplicável deixo uma coisa chamada "instinto" falar em meu nome. E porque não,  muitas vezes, dividir com meus filhos as minhas dúvidas, e o quanto eu realmente gostaria de saber sobre assunto x ou y, mas na verdade são coisas difíceis de serem explicadas, porque as pessoas são muito diferentes. E que precisamos amar e aceitar as diferenças de cada um. E valorizá-las quando for possível. Afinal não são essas diferenças que dão textura pra nossa vida?

As regras não existem. E estou quebrando todas as regras que não servem pra mim e pra minha família quando estou maternando. Quero criar nossas próprias regras. Somos diferentes. Somos únicos. Porque não podemos desenvolver nossas regras exclusivas ao longo das nossas vidas?



16 de janeiro de 2015

"ASA QUEBRADA"


Aconteceu. Você se quebrou pela primeira vez na vida. Felizmente demorou bastante para isso acontecer... porque acho que quando você era menor eu teria sofrido mais. 
Agora você já é um menino grande, com muita coordenação, ávido por esportes e atividades que mexam com seu corpinho perfeito e que  há 7 meses descobriu sua nova paixão: o futebol. 
Neste aspecto nós nos afastamos um pouco (sempre curtimos as mesmas brincadeiras) mas por outro lado você me fez tolerar um pouco mais este esporte. O que é positivo.

Te ver de asinha quebrada meu amor, me deixou de coração partido. Ver sua carinha de decepção e lágrima nos olhos de viver no primeiro final de semana de férias aquele pequeno acidente no campo de futebol que resultou em um gesso maldito instalado no seu bracinho e te limitar tanto me deixou mal. Mas como sempre filho, eu não queria demonstrar para você que estava mal. Quis te dar força. Te contar que aquilo era coisa de menino esperto, que se estrupia mesmo. Compartilhei com você histórias de todas as pessoas que eu me lembrava que passaram por isso. Contei que talvez não fosse essa a única vez que você veria um membro seu imobilizado. Coisas da vida. Coisas de meninos saudáveis, coisas que acontecem. 

Mas preciso dizer que nem de asa quebrada você se abateu. No primeiro dia foi difícil você se achar no meio daquele braço parado, chato, incômodo e dolorido. Mas no dia seguinte com menos dor você já comentava que o braço estava mais leve. E no dia seguinte mais leve ainda. E hoje, quase 4 semanas depois você vive como se o gesso nem existisse. Se adaptou lindo. Rápido. Fiquei surpresa como as crianças tem a capacidade de se adaptar tão rápido as situações. Fiquei mais apaixonada pelo seu jeito do que já sou. Pela sua capacidade de compreensão com essa situação. Pela sua força de nadar na piscina com o braço levantado. Pela sua tremenda obediência de não mergulhar só porque a gente te disse que não podia, mesmo quando todas as crianças da piscina mergulhavam e aquilo te deixava com água na boca. Você se divertiu do jeito que dava. Sua vida não parou. Você continuou, jogou bola, video-game, brincou de pega-pega, luta, esconde esconde, baralho e fez tudo como se sua asa não estivesse quebrada. E não estava mesmo. Era seu braço que tinha 2 fraturas. E ainda tem. Vamos tirar esse gesso semana que vem e acho que eu estou mais ansiosa do que você.

A sua asa continua intacta my little angel. Porque você meu pequeno menino grande também é anjo. Também é luzinha nas nossas vidas. Você vê longe, sente infinito e frustra imenso. Mas ama intenso, exclusivo e conviver com você é um privilégio. Te amo tanto filho e quero que seu braço fique bom rapidinho, ou asinha quebrada como costumo metaforicamente dizer… mas sabemos eu e vc, que a asinha continua firme e forte para os seus vôos iluminados. E a gente vai ter história pra contar que quando você tinha 6 anos e meio no primeiro final de semana das férias você quebrou o braço. E as fotos vão comprovar nossa história de que você brincou, pulou e se divertiu como nunca. 
Compreendeu que esta limitação momentânea não iria te impedir de viver suas férias e ser feliz. 

Obrigada por compartilhar comigo este aprendizado filho. 
E por ser quem você é meu menino de braço quebrado e asinha intacta. 
Te amo exatamente do jeitinho que você é. 
Hoje e sempre.