Ontem li uma reportagem interessante que falava sobre os formatos da criação dos filhos… falava se a gente queria transformar nossos filhos em bonsais, podando todas as arestas e moldando aquele ser, transformando em uma beleza com potencial atrofiado….
Ou se a gente tinha a capacidade de enxergar o filho como um ser único e permitir que aquele ser cresça e exerça seu potencial com liberdade para o mundo.
Eu nunca havia pensado nos bonsais desta forma, e muito menos nos filhos.
Sei que existe dentro da gente um questionamento constante em saber se estamos fazendo o melhor trabalho na educação dos nossos filhos e uma dúvida importante: será eles estão absorvendo o que estamos ensinando?
Qualquer dica ou demonstração de alguma atitude que você considera ideal vinda do seu filho é motivo de orgulho, bem como qualquer atitude que você desaprova é decepcionante, você reprime a mini criatura e explica o porque, ou se irrita e solta um "porra filho", ou ignora.
Eu nunca consigo ignorar, mas na maioria das vezes me frustro bastante.
Passa. Mas é frustrante.
E aí vejo que a frustração é minha e não deles. É pesado jogar esse peso nas costinhas deles.
Nas costelinhas deles.
Talvez eles não estejam preparados para lidar com as minhas expectativas.E talvez eles sejam apenas crianças querendo se divertir e poder ser apenas criança. Nada de agenda lotada de atividades por aqui. Dias de ócio são muito valorizados. Dias só para brincar. Enquanto eles puderem existir, vou lutar por eles.
Talvez meus filhos sejam bem mais do que eu sonhei um dia que pudesse ter.
Eu sonhei um dia em ter bebês loiros correndo pela casa com um cachorro. Sonhamos com essa família.
Só não imaginava que criar filhos era isso tudo.
Para criar qualquer coisa você precisa de dedicação, amor, entrega, generosidade.
Para criar filhos você precisa de tudo isso e também estar disposto a abrir mão de muitas coisas por um bom tempo. Outras para sempre. Coisas que você gosta, que você gosta muito.
Algumas você pode recuperar com o passar dos anos. Talvez você descubra coisas novas que gosta nesta nova caminhada. E haverão muitas descobertas. E conquistas do pequeno ser apaixonante.
Como não vibrar a cada conquista e não morrer de rir com cada mínima descoberta, como a última do Beny ao descobrir que "pipi não tem osso"?
E como rir de felicidade sem ser repreendida pelo filho que acha que eu estou rindo dele quando ele me conta coisas engraçadas do cotidiano?
Tento em vão explicar que estou rindo de felicidade por ele e não estou tirando sarro dele…
Mas é em vão, normalmente meu filho que sai pisando forte porque eu não paro de rir…
Eu sei que eu não sou uma mãe convencional… Isso não é bom, nem ruim…
Gosto de ser diferente, não gosto das coisas que todo mundo gosta.
Eu tiro sarro deles ás vezes, e de mim mesma também porque quero ensinar para eles que rir faz bem e que a felicidade está nas pequenas coisas… que rir da gente mesmo também pode ser delicioso e libertador…
Eu falo muitas besteiras pra ver eles se matarem de rir, e já temos as nossas "piadas internas" pela evolução do nosso besteirol noturno… O som daquelas risadas é musica para os meus ouvidos.
Também falo do passado, de quando eu era criança, das minhas experiências, das experiências das pessoas da família, dos entes queridos… adoro compartilhar com eles coisas românticas, coisas felizes…
Conto sobre muitos momentos de quando soubemos da gravidez deles, do quanto eles foram desejados, das mínimas coisas que eles faziam quando eram bebês, as primeiras palavras, as coisas que gostavam de fazer...
Fico montando um grande quebra cabeça, ou uma colcha de retalhos das nossas histórias, dos nossos sentimentos, das nossas vidas, para que elas se cruzem nas cabecinhas deles e se fixem nos seus corações.
Não quero que eles virem bonzais aparados, lindos por fora e engessados por dentro…
Quero que eles cresçam para o mundo como árvores fortes, com raízes gigantescas e sem fronteiras.
Que façam sombras deliciosas para que muitos possam se aconchegar embaixo deles.
O mundo em que a gente vive hoje da muita preguiça, é um mundo hostil, vazio, com valores trocados…Parece um trem desgovernado indo para sei lá onde com pessoas com tanta pressa que não estão vendo nem sentindo nada…Todo mundo quer ter tudo e não se preocupa em ser nada.
Por isso e por muitos outros motivos me esforço arduamente para que meus filhos consigam ver o que eu vejo e torço para que consigam enxergar além do que eu sou capaz, a beleza do mundo, e as sementes que podemos plantar por aqui, como seres humanos de verdade, inteiros, amados, saudáveis, felizes, que sorriem e que choram, que ficam felizes e que se frustram ás vezes, que encaram os desafios de todos os dias, nos relacionamentos, na vida. Que se arrisquem, que se relacionem, que estejam dispostos a se entregar para as pessoas, que queiram melhorar os momentos, os dias, ajudar as pessoas, fazer carinho na alma.
Quero ter menos expectativas com eles, tentar aceitar diariamente o jeito de cada um, e o propósito diferente que cada um deles tem por aqui.
Quero poder promover o que cada um tem de bom e tentar jamais minar ou "podar" a liberdade, iniciativa ou aptidão deles para as coisas.
Ter a minha consciência já ajuda.
Agora preciso entoar o mantra muitas vezes para não esquecer no meio da correria.
E não comparar, jamais comparar os dois.
Que são absolutamente diferentes em tantas coisas, e tão apaixonantes com todas as suas diferenças.
E os dois terão uma coisa importante em comum:
O meu imenso e eterno amor e dedicação, e meu esforço em aceita-los do jeitinho que eles são.
Quero criar árvores felizes e não bonzais.